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O Filho do Presidente

Foto do escritor: Jefferson MachadoJefferson Machado

Ao assistir ao espetáculo online “O Filho do Presidente” fui arrebatado para a nova e velha discussão sobre o que é teatro e o que não é teatro. Essa aliás é uma das grandes perguntas desse ano. Principalmente para quem não se aventurou ao novo e negou qualquer possibilidade de produzir. Agora, só restou sentar e assistir quem o fez! Né? Assim sendo vamos levantar algumas questões para encontrar essa resposta e vou utilizar a peça em questão para isso.

O ator, Ricardo Cabral, dá início ao espetáculo conversando com o público, num bate papo descontraído. Isso é o que parece, mas vai muito além disso. Naquele momento o ator vai criando uma intimidade com seu público, uma aproximação, muitas vezes conquistada com a proximidade do presencial. Na falta do “mardito”, o tal presencial, esse bate papo cumpre o papel. Então ele estabelece um jogo delicioso entre ator e público, sem efeito nenhum, sem malabarismos. Apenas no papo.

Quando a peça tem início mergulhamos em um texto muito bem desenvolvido e bem dito em que numa simbiose entre a performance do ator e a direção, precisa e eficaz, somos seduzidos e passamos a ter a mesma sensação e proximidade do teatro presencial. Nesse jogo estabelecido pelo ator com o público e pensado pela direção, acompanhamos e desenrolar da narrativa de várias formas e temos o ator entregue a nós, ou seria o contrário? Em minutos ficamos tão próximos dele que conhecemos detalhes de seu corpo, percebemos sua respiração, ficamos sem ar com suas pausas, sim! O que dizer de suas pausas? Elas existem para que preenchamos com nossos pensamentos, não são apenas para o ator descansar de um “bife” muito grande. Descansar aliás é algo que Ricardo Cabral não faz em nenhum momento, provocando nossa imaginação a todo momento, seja com sua narrativa ou seja com seu trabalho corporal. Sim!!!! No teatro online posso ter trabalho de corpo também! E Ricardo nos provoca com todo o “TONOS”, ora para seduzir ora para trazer a tensão necessária. Nesse meio tempo, quando estamos cansando de alguma narrativa, ele nos surpreende com algum movimento e mudando o ponto de vista ou o ângulo da câmera nos conta algo novo e chama nossa atenção para que não desistamos daquela história online. O ator demonstra seu domínio com a câmera o que é fundamental para o que se propõe a fazer e para segurar seu público durante todo o momento em sua narrativa solo. É ao vivo, o tempo inteiro, e estamos conectados atentos e envolvidos, e isso não é teatro, porra?

O Teatro, a arte de contar uma história, uma história contada por um ator sozinho, sem efeitos, sem embrulhos, é tudo muito simples, porém precioso e necessário. É sublime, no maiúsculo porque não tem artifícios e quando os tem são “caseiros”. Uma das coisas que aprendemos no fazer teatral é que no teatro tudo é possível, na caixa preta tudo pode acontecer e nesse espetáculo é o que acontece, o ator atiça nosso imaginário trazendo imagens com objetos precários, ou através de sua narrativa, no escuro, nos faz imaginar, artifício usado na Grécia Antiga durante o clímax nas tragédias clássicas durante a morte ou a desgraça de alguma personagem sendo narrada pois nada pior para o ser humano do que sua própria imaginação.

Outro mérito é o domínio do ator sobre o texto, ele domina, não apenas porque o escreveu, mas ele sabe muito bem aonde ele quer chegar, interage, provoca, seduz, e assim, se utiliza do apartamento, do corpo e da palavra para transformar tudo em cenário do espetáculo ou sonoplastia, sim, porque ele também faz sonoplastia corporal. Vale salientar que nem dos novos recursos do zoom o ator se utiliza, é a prova viva de que podemos contar muito bem uma história sem grandes efeitos em que a atual juventude artística e da era digital muitas vezes por preguiça ou pressa nega o clássico, nega o velho, que muitas vezes numa nova proposta pode se tornar tão atual quanto “o novo”. Enfim! Parabéns ao Teatro Caminho e Corbelino Cultural, na figura de Ricardo Cabral e Natasha Corbelino, por essa noite em que me prova que existe TEATRO no online, sim!


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