
Uma grande colcha de retalhos áudio visual é o que gerou o experimento da Cia Pokos & Lokos de Taubaté. Inspirados pelo trabalho em cima do texto “Era uma vez um coração”... que desenvolviam durante o ano e que devido a pandemia teve que ter uma pausa. O grupo decidiu produzir um experimento audiovisual já que o palco, tornou-se proibido no atual momento.
Assim temos um grupo de artistas extremamente potentes e alguns deles com um domínio absurdamente bom na técnica da edição. A cada conto apresentado temos uma avalanche de efeitos e propostas para cada sentimento. Uma diversidade visual que enriquece pela variedade, porém distância pela unidade estética. Mas enquanto experimento cumpre devastadoramente o seu papel de investigar, descobrir, explorar o que cada um desses artistas de origens ímpar buscam no projeto.
Na apresentação de ontem, com um link direto para o Youtube, escolha esta do grupo, deixa a proposta mais para o áudio visual do que para o teatral, visto que não tivemos o “risco” do ao vivo. Me provocando uma curiosidade enorme em saber no meio de tudo aquilo, o que é feito ao vivo? Como o grupo se sai no ao vivo? O que podemos notar na apresentação de ontem, de caráter teatral, foram as interpretações cujo vídeo e o microfone denunciam as diferentes linguagens. A maquiagem excessivamente teatral de alguns também foi outro ponto que chamou a atenção.
A dramaturgia, para mim, nesse projeto, é o maior desafio! A possibilidade de caminhos para se desenvolver é a mesma de selecionar os números para a Megasena. Um exemplo, é a ordem dos sentimentos. Qual sentimento é o primeiro e qual desencadeia no outro, só isso seria uma das inúmeras possibilidades como um fio dessa jornada, como posso costurar um sentimento no outro com outro objetivo numa outra proposta, e por aí as possibilidades são infinitas. Do jeito que está, solto, acho pouco desafiador enquanto narrativa porém conciliador em meio a tantas ideias e talentos. Enquanto desenvolvimento, alguns contos são mais interessantes que outros, podemos perceber, pelas referências estéticas de alguns e simbólicas de outros. Alguns me pegam mais que outros, afinal como dizia Iacov Hillel, uma obra possui várias camadas e cada público pegará a camada mediante o seu conhecimento sobre o assunto. Alguns contos me foram um deleite aos olhos em vários sentidos.
E o que não podemos negar é a diversidade nesse projeto, um prato cheio para quem assiste. É como uma mesa cheia de ingredientes e algumas experiências ficam melhores que outras. Mas também acho algo subjetivo, para cada um que assiste, e assim é quanto optamos por um experimento.
Sempre digo, o que gera reações, opiniões, debates, cumpre seu papel artístico porque promoveu o que é mais importante, a reflexão. Agora quem está certo ou errado...kkkk! São pílulas! Para mim, assim como o texto que inspirou o projeto, tive uma ilustração dos sentimentos, fiquei com vontade de mais! E isso, é bom! Sei que é trabalhoso, a cada momento eu imaginava o trabalho que aquela cena devia ter dado ao seu realizador. Como é o caso do maravilhoso conto das cores...o que era aquilo? Dream Works? Sr. Aquino, você é uma potência absurda! Se vale alguma dica, diante de todo esse seu domínio, acho que somente para ficar atento ao excesso de efeitos. Lembro do grande Clóvis Garcia que dizia que todo diretor jovem gosta de colocar todas as ideias numa única peça teatral. Então se o projeto tiver esse caráter experimental, reflita onde realmente o efeito é necessário e onde o artista, no caso, você, está desenvolvendo para aprimorar o artístico ou para o entretenimento. Essa já será uma grande questão a resolver. Acho exatamente o conto das cores o que me pareceu o mais potente para interligar todos os outros numa busca por uma dramaturgia mais trabalhosa e desafiadora. Digo isso pelo que assisti, porque como disse é o tipo de projeto que as possibilidades são infinitas.
O que for bom usem, o que não for joguem fora! Aqui fica meu agradecimento por nos brindarem com um trabalho feito de coração, um trabalho que com certeza deu muito trabalho e entrega. Obrigado por generosamente nos oferecer esse banquete de inspirações, essa colcha de retalhos audiovisual que aquece nosso olhar e nos faz torcer por vida longa ao projeto! Bravo! Vocês fazem parte dessa lista de guerreiros que não desistiu, que não esmoreceu, e que produziu! Produziu lindamente! Evoé a todos!!!

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